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“Esperando Godot”

livro

Ilustração: Paulo Franco

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No dia 23 de janeiro de 2016, às 14h03, eu terminei de ler o meu primeiro livro do ano: “En attendant Godot” ou “Waiting for Godot” ou “Esperando Godot” de Samuel Beckett, que narra os acontecimentos de Estragon e Vladimir.
Li em doses homeopáticas.
Era como se depois da minha demora Godot viesse logo, porque agonia é esperar e ainda mais quando não sabemos se é por uma notícia boa ou ruim.
O texto/peça teatral faz a gente rir pelo desespero do pouco sentido que encontramos na vida e por sempre continuar tentando.
É tão difícil escolher uma carreira e ai um dia escolhemos… E como é ruim participar de um processo seletivo e ficar atualizando a página do e-mail e não encontrar nada além de umas propagandas…
Qual caminho devemos traçar?
Caso ou compro uma bicicleta?
Dou entrada num apartamento ou faço uma viagem de intercâmbio?
Devemos ser bicho solto no mundo ou criar ninhos?
Escolhemos a profissão por dinheiro ou por prazer?
“Esperando Godot”… Mas quem é esse tal de Godot?
É um Deus, é a Esperança, é a Liberdade, é a Morte, é a Vida, é o Futuro? Eu não sei e acho que certeza mesmo ninguém tem.
Godot faz a gente repensar as nossas ações e reações, as relações entre as pessoas e qual é o nosso problema: o nosso real problema! Esperar Godot é aquele momento da vida em que estamos sendo sugados pela rotina, pelo excesso de informação, nos perdemos de nós mesmos e temos um estalo de que podemos viver de um jeito diferente, mas mesmo assim ainda caímos de novo e de novo neste furacão. É quando não temos mais esperança e vemos uma flor nascer no asfalto.
E eu aqui, falando comigo mesma, como num monólogo (sendo mais teatral) ou como um solilóquio (sendo mais rebuscada) digo que: Na caixa do jogo da vida, somos os vagabundos que esperam, que escolhem, que tem medo, que enfrentam, que esperam de novo…

“O Sol é para todos”, será Harper Lee?

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Como é boa uma contação de história: seja num livro, num filme ou numa conversa. Algumas são contadas “ipsis litteris”; outras são reais com pontos exagerados ou inventados para trazer um sentido, uma sensação ou um pensamento e, por fim, algumas são fruto total da imaginação, onde é possível criar pessoas, lugares, sociedades…
Não consigo conceber uma vida sem histórias.
A história de hoje se chama “O Sol é para todos”, em português do Brasil, em português de Portugal “Mataram a Cotovia” e o título original é “To kill a mockingbird”, sendo que “mockingbird” é traduzido como “rouxinol” em algumas versões. Eu não li o livro, eu ouvi. Audiobooks ou audiolivros são uma opção incrível quando não podemos estar com o livro em mãos seja porque estamos no transporte público ou lavando uma louça, por exemplo. Mas, além disso, a sensação é como se alguém estivesse te contando uma história. Recomendo a experiência.
É um clássico escrito por uma mulher norte-americana, Harper Lee. Leia mulheres! Para contextualizar: O livro foi escrito em 1960, ganhador do prêmio Pulitzer, foi transposto para linguagem cinematográfica e ganhou o Oscar (ainda não tive a oportunidade de assistir).
Uma obra dessa envergadura não é fácil resenhar, é preciso ter coragem.
“Coragem é fazer uma coisa mesmo estando derrotado antes de começar – prosseguiu Atticus. – E mesmo assim ir até o fim, apesar de tudo. Você raramente vai vencer, mas às vezes vai conseguir.”
Atticus é um advogado que decide defender um negro acusado de estupro por uma mulher branca.
A história começa apresentando a pequena cidade fictícia Maycomb, no Alabama, EUA, na década de 1930. Como qualquer cidade pequena, cheia de conflitos e picuinhas. O ponto de vista abordado é o da filha dele, uma garotinha de 6 anos muito esperta e observadora, chamada Scout.
A autora aborda, de uma maneira que prende a atenção, temas como: racismo, direitos humanos, acusação de estupro, luta de classes, papel da escola, abuso policial, vingança, boatos, senso de justiça, ética e por aí vai…
A tradução do título parece não ter nada a ver com a obra ou com o título original, em um primeiro momento. Ao ir conhecendo as personagens e as descobertas da menina que está crescendo enquanto narra, é possível notar que o Sol não necessariamente é para todos, mas deveria ser.
“Só existe um tipo de gente: gente” e “a maioria das pessoas são boas quando finalmente as conhecemos.” Se fôssemos capazes de entender essas frases simples, sem dúvida viveríamos numa sociedade muito mais justa