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— Já reparou o tempo que ‘tá durando a obra da nossa vizinha debaixo?
— Quase um ano. É muito curioso.
— A placa continua lá?
— Sim, com dizeres em letras garrafais “ATENÇÃO! Estamos em obras, desculpe o transtorno”.
— Você ouve barulho?
— Que nada! É uma obra estranhamente silenciosa. Você viu os boatos que estão rolando no grupo do Whatsapp? Dizem que em uma semana ela constrói e na outra, desfaz.
— Que estranho! Ela faz parte do grupo?
— Capaz.
— Um imóvel tão pequeno. Haja criatividade para ficar refazendo as coisas. Criatividade e dinheiro. Você já conversou com ela?
— Bom dia, apenas. Pelo menos é educada.
— Eu te desafio a tocar a campainha dela e perguntar sobre a obra.
— E eu ganho o que se eu for?
— Hm… Eu pago um rodízio de comida japonesa. Topa?
— Comida é sempre meu ponto fraco. Ajuda na abordagem. Vou falar o quê?
— Pergunta se ela tem indicação de alguém que instale ar-condicionado. A gente ‘tá mesmo pensando em comprar um.
— Eu não sei se é uma boa ideia. O preço que ‘tá a energia.
— Achei que isso já ‘tava definido.
— Não quero brigar.
— Ninguém ‘tá brigando aqui.
— Tem que ser tudo sempre do seu jeito.
— Tá maluca? Eu só fiz o comentário. Não precisamos comprar se você não quiser. Eu hein?!
— Nem pense em me chamar de maluca de novo. Eu ainda vou dar motivo para ser tratada como uma maluca.
— Amor, se acalma!
— Eu ‘tava calma, mas a sua função na terra é tirar a minha paz.
— Poxa, no começo do nosso namoro você dizia que a minha calma te acalmava…
— No começo… Isso faz quantos anos? As pessoas mudam. Vou lá na vizinha.
— ‘Tá bem!