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Pequenos milagres e meus sentimentos

Textos de sexta: 29/52

Esses dias passou um filme na televisão chamado “Superação – O milagre da fé”. Foi baseado numa história real, e eu nem sabia e mesmo assim eu vi e chorei, de um menino que se afoga, os médicos não acreditam que ele pode sobreviver ou, se sobreviver ele terá muita sequelas, e vão acontecendo pequenos milagres até acontecer o grande milagre. Duvido muito que acreditariam que um milagre aconteceu se ele não se recuperasse plenamente. É o tipo de milagre digno de filme.
Em uma das cenas, as pessoas começam a se questionar por que o milagre aconteceu com aquele menino em especial e isso me incomodou bastante, não que eu ache que não deveria existir essa cena, mas porque aquela pergunta já rondou meu imaginário também: pessoas boas, que praticam o bem, cheias de planos sonhos ainda não realizados e que simplesmente deixam esse plano espiritual. Até agora não encontrei nenhuma resposta.
Posso dizer que eu sou uma pessoa católica com leves dúvidas sobre a existência ou não de Deus em alguns momentos, mas não em todos. Enfim, a hipocrisia.
Eu me indago quando penso na discrepância: uns com tanto e outros com tão pouco, quando sei de mais uma chacina…
A verdade é que quando eu era criança não tinha dúvida nenhuma, tinha certeza que Deus existia. A primeira vez que me deparei com a morte de uma pessoa que eu conhecia, depois que eu já me entendia por gente, foi no ensino fundamental. Na volta das férias não teve conversinha, não teve redação sobre o que havíamos feito nos dias livre, só teve a secretária da escola passando de sala em sala contando que o menino da outra sala tinha morrido afogado e que nunca mais ia voltar. “Nunca mais” como isso é forte, né? Ele não era meu amigo, hoje não lembro do nome nem da fisionomia, mas no dia isso bateu dolorido, disso eu me lembro.
Não sei quantos anos se passaram até que a morte chegou mais perto. Uma pessoa muito próxima e querida adoeceu. Uma pessoa que se cuidava muito, não tomava remédio por conta e quando sabia de alguma coisa que fazia mal para saúde já eliminava aquilo da vida ou eliminava o máximo possível. Era uma pessoa que a gente tinha certeza que ia ter uma vida muito saudável e próspera. Contrariando as estatísticas, essa pessoa adoeceu e ao fazer exames foi descoberto que era algo muito grave. Era grave no nível de não ter cura. Eu tinha 12 anos e não sabia muito bem o que “não ter cura” significava, pois alguém teve que me dizer, com todas as letras, que aquela pessoa ia morrer. Lembro-me da minha revolta e de falar que não isso não ia acontecer, afinal, eu tinha muita fé. Ia rezar e pedir para Deus, porque é isso que a gente faz com a nossa fé, era o que eu pensava. Fiquei um bom tempo rezando, enviando muitos pensamentos positivos. De verdade, era uma fé muito poderosa, mas a pessoa não estava melhorando e não tinha nenhuma expectativa de melhorar.
Aí, uma senhora muito, muito temente a Deus, muito importante para mim, muito forte e muito querida me disse que eu não devia pedir por mim porque eu não queria sofrer e porque eu não queria perder essa pessoa. Deus deveria fazer o que fosse melhor para ela, a que adoeceu.
Aquilo bateu atravessado em mim, entretanto eu não podia responder. Então, engoli seco, mas pensei “E os milagres, eles acontecem. Eu tenho fé, frequento a igreja.” Nessa hora, comecei a achar que Deus tinha que me provar sua existência e seus milagres.
Essa senhora continuava me dizendo que existem grandes milagres, aqueles dignos de filme como ao que eu assisti essa semana, mas que existem também os pequenos milagres, que é quando a gente pede para Deus fazer o que for melhor para pessoa e ele atende. Eu devia mudar as minhas orações e usar minha fé nessa direção. Um pouco a contra gosto, um pouco sentindo que eu estava traindo a minha fé e um pouco achando que eu estava traindo aquela pessoa que tava doente, segui os conselhos da senhora.
Em alguns poucos dias, a pessoa que estava doente se foi e foi uma dor absurda. Tive muita dificuldade de digerir tudo aquilo e eu escutei algumas pessoas falando que o sofrimento ali tinha acabado. Eu só pensava, e olhava para todo mundo que tava lá, que estava todo mundo sofrendo e como é que o sofrimento tinha acabado? Eu não entendia que eles estavam falando de quem se foi e não de quem ficou. A minha seta estava muito voltada para mim ainda. O tempo passou, achava que isso era o máximo que eu conseguia pedir: para Deus fazer o que fosse melhor para pessoa.
De vez em quando eu ainda refletia sobre a frase “se há 1% de chance, há esperança”. E algo muito válido para tudo que a gente pode mudar, mas a gente tem que entender que somos feitos de uma estrutura óssea, coberta por uma carne, ou seja, somos frágeis, impotentes e finitos.
A gente tá vivendo num com tanta tecnologia, com a medicina tão evoluída e que faz a gente acreditar que a gente está mais perto dos milagres, mas não está!
Fiquei adulta, a vida foi acontecendo, até que essa senhora adoeceu. Novamente, ouvi que não tinha cura. Nessa altura, já sabia que não ter cura não é necessariamente que a pessoa vai morrer, como me explicaram quando eu era criança até porque há pessoas que convivem com doenças que não tem cura, mas elas não vão morrer disso, elas vão morrer com isso e nesse caso a preposição faz muita diferença.
Infelizmente, ali não era um caso de “morrer com isso”, mas sim “disso”. A finitude estava batendo na nossa porta, esmurrando.
Dessa vez, sabia para quem que eu tinha que apontar a seta. Finalmente, eu tinha aprendido isso e que lindo que foi ela que me ensinara.
Segui o meu ritmo, pedi para Deus fazer o que fosse melhor para ela e repetia isso dentro da minha cabeça.
O tempo foi passando, a doença foi progredindo e, em um dia muito complicado, a gente tava no hospital. Sentia que seria particularmente difícil.
Sabia que eu tinha que estar ali e que provavelmente ia ser uma das noites mais difíceis da minha vida e é até hoje.
Eu quis ficar no hospital e hoje, olhando em retrospecto, percebo que o meu organismo estava tentando me proteger. Sentia um sono que não se cabia em mim.
Conforme eu acordava, via toda aquela situação, tanto sofrimento e vi aquela senhora juntar as mãos e pedir para Nossa Senhora para ter piedade dela. Naquele momento, meu olho encheu de lágrima e eu não pisquei porque se eu piscasse eu ia desabar. Só quem já teve que segurar um choro na vida, um choro tão importante, sabe o que é isso!
Chegava a hora de eu ir além. Não dava mais só para pedir a Deus para fazer o que fosse melhor, eu tinha que dizer para Deus que eu tava ali e que queria que a vontade dela fosse atendida, por mais que isso me doesse (e ainda dói), por mais que parecesse que eu estava traindo tudo, mas era um sentimento tão verdadeiro, vindo do fundo do meu coração.
Esqueci de contar. Um tempo antes, um médico disse, ao saber da doença, que a única coisa que ele podia desejar era que ela sofresse o menos possível. Achei que ele tinha sido cruel, porque eu não tinha entendimento. Depois de ver tanto sofrimento, tudo ficou mais claro.
Um pequeno milagre aconteceu. Ela não ficou sofrendo. Como não foi o milagre da salvação, a gente tem mais dificuldade de enxergar como milagre.
Aquela noite difícil me ensinou a ser um pouco mais humana, a ouvir mais a sabedoria dos que vieram antes de nós. Quando via alguém em luto ou dor, tinha vontade de contar essa história, mas tudo tem seu tempo e a gente tem que respeitar. Tinha vontade de contar, mas não sabia se as pessoas tinham vontade de ouvir. A seta tinha que estar apontada para o outro e não para mim, essa foi uma das lições mais importantes que eu recebi dessa senhora e olha que não foram poucas, não foram poucas.
Hoje consigo enxergar os pequenos milagres, nem sempre é possível porque deixamos a rotina nos dominar, mas é como quando sei que uma pessoa que está muito depressiva conseguiu tomar um banho; quando uma pessoa que está tendo sua capacidade posta em dúvida e vai lá, faz um trabalho lindo, colorido e esfrega na cara da sociedade que ela é capaz disso e do que ela quiser. Ah! Isso enche o meu coração de alegria!
O que eu quero agora, com a seta apontada totalmente para mim, é que esse texto chegue em pelo menos uma pessoa que precise lê-lo. Se isso acontecer, ao menos uma vez, terá valido a pena ter exposto os meus sentimentos.
Meus sentimentos!

Imagem retirada do livro “Malvados” de André Dahmer

Tudo à luz do dia ou a vida por um fio

Textos de sexta: 15/52

Amanheceu. O sol entrava no quarto por uma fresta da janela. Ele acordou, mas sentia a sua cabeça estranha, sei lá, meio vazia. Tentava se lembrar do que aconteceu na noite passada e nada. Nem sequer do que acontecera na semana passada. Amnésia alcóolica? Mas isso existe mesmo? Lembrava de ter lido em uma matéria da BBC. Ele lia bastante e sobre coisas variadas antes do começo do namoro. Muita coisa mudou desde então. Seria possível um blecaute (e sim, essa é a forma aportuguesada de se escrever blackout) de uma semana? Ele, então, resolveu que iria pesquisar na internet. Virou o corpo, parecia pesar uma tonelada, na intenção de alcançar o celular. Tentou erguer o braço sem sucesso. Cogitou que fosse paralisia do sono. Não era a primeira vez e nem seria a última que seria acometido por tal transtorno. Conseguiu manter a calma. A paralisia talvez explicasse um pouco da confusão mental, quem sabe? Esperou um pouco, mas sem noção alguma do tempo, não sabia se havia passado 1 minuto ou 2 horas. Cansou-se e resolveu gritar por socorro, porém, para o seu pavor a voz não saiu e o seu queixo parecia mole. Concluiu que estava tendo um AVC ou que tinha morrido e estava passando pelo seu inferno astral. O pânico tomou conta de seu ser.
Escuta, de repente, a porta do quarto abrindo, mas não consegue se virar para ver quem é. Uma voz familiar diz “Amor, voltei! A costureira estava atendendo outra pessoa antes de mim, por isso demorei”.
Ela o encontra muito desanimado, com razão. Afinal, sua vida estava por um fio.
Ela tira um emaranhado da bolsa. Ele olha para ela com horror. Ela vai separando os fios com atenção.
“Não vai doer nada”, é o que ela promete enquanto encaixa os fios nos lugares certos.
Pronto!
Ela chama o Borges, o gato, e repete a instrução: “Nada de brincar de novo com o mecanismo do papai, ouviu?”
E é bem nesse momento que ele percebe que não havia perdido só a memória, os movimentos e a voz, mas também sua personalidade, suas vontades… A dependência afetiva o transformou em marionete manipulada pela namorada.
O erro da marionetista, em cena, é não se comportar de forma discreta, não aceitar se colocar em segundo plano e esquecer que cada boneco possui uma personalidade distinta.

Imagem: https://pixabay.com/pt/photos/casa-residencial-janelas-pain%c3%a9is-2609484/

O brigadeiro, assim como a vida, se fica parado empelota.

Textos de sexta: 7/52


Ela, mais do que ninguém, sabia que era preciso equilibrar todos os pratos, não havia escolha.
Filha única de pais separados, classe média-baixa, vivendo na periferia. Aprendeu logo que o brigadeiro, assim como a vida, se fica parado empelota. Foi preciso se mexer, fazer seus corres.
Até se achar na confeitaria, passou por corte, costura, jardinagem, entre outras coisas.
Nesse ínterim vivenciou histórias de amor, mas nada era da forma como ela sonhava. Em um de seus empregos, conheceu um rapaz que mudaria tudo. Ligou para uma de suas melhores amigas dizendo:
— Você não vai acreditar! Vou me casar e ele é perfeito.
Ela descrevia o rapaz e a relação deles com o mesmo brilho nos olhos de um amigo biólogo que conheceu um polvo e se aproximou dele. Cada descoberta, era uma ligação ou uma mensagem: Ele sabe desenhar. Ele é inteligente. Ele sempre senta na mesma mesa na hora do almoço. Ele tem três corações (eu não fazia ideia). Ele toca numa fanfarra. Ele pode ser treinado para realizar tarefas que dependem da memória. O guarda-roupa dele é organizado por cor. Ele é muito brincalhão. A estante de livros dele está em ordem alfabética. Ele pode reconhecer pessoas. Ele sempre compra 12 pães de queijo, seis pra ele e seis pra mim. Sua saudação mais comum é um tapinha. Ele nunca se atrasa. Ele pode ser ameaçador.
O polvo não tem esqueleto nem carapaça e por isso seria um alvo fácil para os predadores, mas o seu trunfo é a sua capacidade de atravessar buracos do tamanho dos olhos dele e pode dar praticamente qualquer forma ao seu corpo. Diferente do polvo, o rapaz não era maleável. Sua vida era composta de estruturas rígidas e entre elas posso destacar “o dia de namorar”. O dia de namorar era sábado. Era o dia que ele se deslocaria da casa dele até a casa dela. Ele não se importava se ela tinha algum compromisso ou se estava ocupada, no dia de namorar ele vinha, ainda que ficasse sozinho na casa dela.
Aos poucos, a admiração foi perdendo espaço e um mal-estar começou a se instaurar. Desistir não era uma possibilidade. Os presentes de casamento estavam todos no quartinho da bagunça. Desde cedo ela fora ensinada a, em hipótese alguma, não deixar a peteca cair. Não caiu, isso é fato, mas não foi nenhuma vantagem porque ela não estava mais pra jogo.
Ela não sabe precisar qual foi a gota d’água. Talvez foi o dia em que foram ao shopping de sempre, o mais perto de casa, comer a batata recheada de mesmo sabor, com Fanta Uva. O refrigerante estava em falta e ele se recusou a comer. “É um ritual”, ele disse e foram embora. Ele não se importou se ela queria comer. Talvez foi o dia que ela ganhou 6 brigadeiros, comeu 4 e ele parecia agressivo: “Você não sabe que 6 dividido por 2 é 3”ou, quem sabe, foi o dia que ela fez cachorro quente, mas era pizza que constava no cronograma.
Ela foi minguando… A ideia de casamento dos sonhos estava tão distante quanto a ideia de ganhar na Mega Sena.
Um dia, chamou para um café aquela mesma amiga para quem, meses antes, havia telefonado falando do casamento perfeito.
— Ele é metódico num nível psicopata. Esse açúcar aqui, que eu botei no nosso café, roubei o sachê da padaria. “Faz mal pra saúde” e ele não admite. Olha as minhas unhas! Lindas… Ele que pintou. Não borrou um milímetro sequer. Sabe o que é nem precisar usar o palito? É doentio isso! Não aguento mais isso. A vida é muito curta para ser previsível desse tanto.

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Quantos perrengues são necessários até completar a travessia em busca de um sonho?

Textos de sexta: 6/52

Ela me telefonou. Fato relevante é que ela nunca me telefonou nesses mais de 15 anos de amizade. Ela não gostava de telefone, mesmo antes disso virar moda, achava que o aparelho deixava as conversas mornas. Ela era católica, mas tinha medo de ler o livro do Apocalipse, no entanto, sabia uma passagem de cor “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.” Capítulo 3, versículos 15 e 16. Ela gostava dessa passagem pelo simbolismo e pela mesóclise. Lembro-me de a ter levado na casa de uma tia no interior do estado certa vez e nos foi servido um café praticamente morno. Eu juro que pensei que ela iria soltar a referida citação, mas não. Eis que ela me lança um “o bom do café morno é que ele não causa câncer no esôfago” e tomou a xícara toda em uma golada só.
Sem telefone, as possibilidades de comunicação eram: presenciais, até que eu resolvi sair do país; Whatsapp e e-mail. Ela não se importava em mandar áudios enormes, eram tão extensos que eu e alguns outros poucos amigos sempre chamávamos de podcast. Havia nela a tranquilidade de continuar ouvindo as nossas mensagens na velocidade 1x, mesmo quando o mundo pedia urgência.
Com a mudança de fuso horário, o melhor horário para conversarmos era 10h no Brasil e 13h aqui na Inglaterra, justamente a hora do meu almoço. Não que eu tivesse realmente uma hora de almoço, mas você entendeu. Ela se queixava que me fazia companhia enquanto eu comia, mas que ela comia sozinha. Ela come devagar, então mais da metade do horário era gasto com o propósito adequado. Sugeri preencher o restante com leitura, mas ela não conseguia começar a ler com o tempo marcado. É do tipo de pessoa que precisa terminar o capítulo, sabe?
Era meio-dia e meia e eu já me encontrava na terceira garfada, mas precisei atender. Ela chorava copiosamente. Eu pedi para respirar fundo 3x e me contar o que aconteceu.
Ouvi que ela era mesquinha. Como podia falar de suas angústias enquanto o mundo vivia verdadeiras tragédias?”
Tive que explicar, mais uma vez, que não se trata de uma rinha de sofrimento. Cada sofrimento é válido e precisa ser acolhido.
“Estou aqui com o jornal aberto. Ouça: ‘População em situação de rua cresceu 31% nos últimos dois anos em São Paulo. Atualmente, há 31.884 pessoas vivendo nas ruas da capital paulista, segundo censo divulgado pela prefeitura’. Tem mais: ‘Aluguel de moradia representa um aumento de 27,09% em apenas dois anos’. Nem vou começar a falar sobre a fome, sobre o descaso do governo com a pandemia…”.
E o choro voltou com tudo e nitidamente com muito catarro. Isso não me incomodava nunca, mas aquele dia em especial, na hora do almoço, foi um pouco puxado, confesso. Tentei quebrar o gelo soltando uma piadinha: Tem uma conta no Twitter chamada “White people problems”. Você sabe inglês, não é? Ou pelo menos sabe o suficiente para entender onde eu quero chegar.
Ela não riu. Tentativa de humor fracassada com sucesso. Logo me perguntou quantos pilares a gente pode abrir mão sem que o nosso alicerce desmoronasse? Eu, sinceramente, não sei. Não faço ideia. “Não é um deslize. Sinto que estou desabando como as casas, após as chuvas de verão, que resultam em mortes e destruição. Por quantos perrengues uma pessoa precisa passar até conseguir alcançar seus anseios? Até agora foram 15 anos de aborrecimento com um chefe que não se importa comigo, que convive dia a dia, mas não me conhece. Você sabe o quanto eu já chorei no banheiro da firma? Eu ando com colírio na bolsa. Não é um relacionamento saudável. Aguentei tudo em nome do sonho da casa própria. Depois, foi a novela para usar o meu FGTS. Eu tive que provar tantas vezes que eu sou eu. Olha, chegou um momento que até eu passei a duvidar. Será que eu roubei a identidade dessa pessoa e depois tive amnésia? Loucura. É isso que os bancos fazem com a gente. E a construtora também não é santa. No capitalismo não há espaço para inocência. Foram 6 fucking meses para pegar a chave. O que não foi um problema tão grande porque meu casamento foi desmarcado por causa da pandemia”.
Questionei se havia nova data até para que eu pudesse me programar para atravessar o oceano Atlântico. Para minha assombrosa surpresa, ela me disse que descobriu que aquele puto (nunca gostei dele) estava saindo com uma colega de trabalho dela (também nunca gostei dessazinha). Ela descobriu fazia umas duas semanas, por isso não respondia mais as mensagens matinais. Foi assim: ela resolveu tomar um sorvete, estava um dia terrivelmente quente e o ar-condicionado não estava sendo ligado por causa do vírus. Mandou uma mensagem para o puto avisando que ia ao shopping, para que ele não se preocupasse por conta da demora. Na cabeça dele, ela iria fazer comprar e demorar horas, só que ela tomou só uma casquinha e partiu para a casa dele. Chegando lá, pegou os dois na cama, pelados. O olho esquerdo tremia. Sacou seu colírio da bolsa e pingou. A segunda reação foi abrir uma mala e ir juntando as tralhas dela. Não proferiu palavra alguma. “Tenho medo de morrer entalada por causa deles. Não bastasse isso, a obra…”
Para o seu consolo, não conheço uma viva alma que fez obra e não se estressou. Se há algo em comum na humanidade, para além das questões biológicas, é que estar em obras é estar com os nervos à flor da pele.
Minha tentativa de consolo malogrou. Ela ficou enfurecida.
“Não estou pedindo favor. Eu paguei com o dinheiro que ganhei sendo esmagada todos os dias durante quatro horas no transporte público. Eu troquei pelo meu frescor, pela minha juventude. Eu precisei ouvir que sou paga para executar e não para pensar. Eu paguei!!! (Tão alto que quase não precisaríamos de telefone para que eu pudesse ouvir do outro continente). Por que nem assim eu sou respeitada? Por que nem as relações meramente comerciais dão certo? Eu preciso de ajuda. Você está formada! Tem sua carteirinha da OAB. Será útil! Eu me vi dando socos na boca e pontapés, rasgando contratos e cuspindo na cara das pessoas. Sabe o que é pior? Eu fiquei mais calma depois disso!”
A agressão ocorreu apenas nos pensamentos dela e, ainda bem, pensar não é crime. Se é pecado já não sei, porém deduzo que seja. Aqui, estamos nos referindo ao Direito à perversão que, no Direito Penal, consiste em planejar atos contrários à lei sem exteriorizá-los. Como ela não é nem doida de postar um tipo de coisa como essa em redes sociais sem falar comigo, fiquei tranquila. Expliquei que era preciso pensar em ações dentro da lei. Do mesmo jeito que se firma um contrato, desfaz. Reincidir o acordo firmado anteriormente é chamado de distrato e é legal nos dois sentidos: está dentro da lei e fará bem a saúde mental dela.
Ao longo da conversa, percebi que ela se acalmou. Algo que eu disse a fez desistir de desistir. Foi nesse momento que ela me disse que não desejava um grande mal nem para alguém que até meia hora antes era o alvo do seu ódio: arquitetos, mestres de obra, pedreiros, ajudantes, lojas de material de construção… Que a conversa foi a caçamba que ela precisava para entulhar o que sobrou da negação, do isolamento, da raiva, das tentativas de barganha e da depressão. Finalmente, ela aceitava que passava aquilo porque precisava passar.
Quando questionada, de seus lábios saiu algo que soou como música para os meus ouvidos:
“Sinceridade é uma das suas melhores qualidades! ‘Sincero’ é de origem romana e reza a lenda que eles fabricavam vasos e consertavam as falhas com uma cera especial, mas quando a peça era aquecida por quaisquer que fossem os motivos, a cera derretia e as imperfeições eram reveladas. Foi daí que as pessoas começaram a comprar peças “sine ceras” (sem ceras), ou seja, sinceras como você: meu vaso valioso!”
Tenho que admitir, naquele exato momento, meus olhos se encheram de lágrimas. Ouvir de uma grande amiga que ela preza pela minha sinceridade é algo tocante. Ela notou que mexeu comigo, claro, e completou: “Não seja boba! Eu li isso em alguma parte da internet. A etimologia verdadeira é latina ‘sincerus’ e significa ‘é limpo ou puro’. Você é muito emocionada, menina! Agora preciso ir, vou escolher o piso. Fique de olho no seu celular porque eu vou te mandar muitas fotos. Bom almoço!”

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Lázaro, Eleanor e janeiro roxo

Textos de sexta: 4/52

Lázaro e Eleanor tinham um amigo em comum, o John.
No aniversário de 20 anos, John resolveu comemorar em um bar recém-aberto na Vila Olímpia e chamou uma porção de amigos.
Eleanor levou uma amiga e Lázaro foi sozinho.
A cena foi clássica: a amiga tinha acabado, por aqueles dias, um relacionamento, muito tóxico por sinal, e topou sair para espairecer, mas foi só o ex telefonar e ela não se importou em ir correndo ao seu encontro e largar a amiga no bar.
Lázaro viu a movimentação e se aproximou. Foi assim que eles se conheceram.
Ela pediu um gim-tônica, ele, Whisky com energético.
— Que nome lindo o seu. Com certeza você conhece a música dos Beatles, certo?
Eles cantam juntos: — Ah, look at all the lonely people!
— John não me deixa esquecer. Você sabe que o nome dele é assim por causa do John Lennon, né?
— Cara, ele nunca me contou isso. Seu nome é por causa da música?
— Que nada! É por causa do Karl Marx, na verdade, por causa da filha dele. Meu pai era militante e daí veio a ideia da homenagem.
— Não vamos falar de política, não quero ser deselegante com você.
Quando o garçom trouxe, John brotou na frente deles e perguntou se ela tinha certeza que podia beber.
Ela ruborizou, eles só não sabiam se era por vergonha ou por raiva.
Lázaro perguntou por que é que ela não podia beber.
Nesse momento, o ar ficou pesado como se eles houvessem se transportado imediatamente para Chernobyl.
John disse que a amiga estava tomando remédios sem entrar em detalhes.
Ela respirou tão fundo, que deu para notar o peito enchendo. Ela olhou para Lázaro e riu. Um riso de deboche ou de nervoso e perguntou se ele conhecia o mal de Lázaro. Ele fez com a cabeça que não. Ela disse que estava tratando de Hanseníase, mas que já estava curada e por isso podia beber.
Ele nunca tinha ouvido falar a respeito dessa doença e quis entender melhor.
John disse que a doença era conhecida como lepra e viu o horror na cara de Lázaro.
— Eleanor é uma leprosa? Credo! E você me deixou tocar nela? Seus imundos.
Ela, já muito atingida pelo estigma, tirou cuidadosamente o celular de seu bolso, abriu o Google e digitou:
“lei nº 9.010/1995”.
Clicou no primeiro link que apareceu e deu para Lázaro ler.
— Leia em voz alta.
— Dispõe sobre a terminologia oficial relativa à hanseníase e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º O termo “Lepra” e seus derivados não poderão ser utilizados na linguagem empregada nos documentos oficiais da Administração centralizada e descentralizada da União e dos Estados-membros.
— Pode parar. Tem até uma lei que proíbe o uso desse termo. E, saiba, seu ignorante, que essa doença não é transmitida encostando na pele. É pela saliva, pela tosse ou pelo espirro. Se você tomou a vacina BCG (a que deixa a marquinha no braço direito), provavelmente você tem pouca chance de se contaminar. E, aliás, quem está curado não transmite. Tem cura, assim como a sua ignorância.
A monja Coen disse em uma de suas palestras que existem três venenos: a ganância, a raiva e a ignorância.
Informe-se! Esse é o antídoto para a ignorância. Pesquise sobre a campanha janeiro roxo e nunca mais toque em mim, não por causa da minha doença, mas por que eu tenho nojo do seu preconceito.

A Mulher do Fim do Mundo que veio do Planeta Fome e cantou até o fim: muita luta e muito luto.

Textos de sexta: 3/52

“Na avenida deixei lá
A pele preta e a minha voz
Na avenida deixei lá
A minha fala, minha opinião
A minha casa, minha solidão
Joguei do alto do terceiro andar
Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida
Na avenida dura até o fim
Mulher do fim do mundo
Eu sou e vou até o fim cantar”.

Esse é um trecho da música de 2017, “A Mulher do Fim do Mundo” (Romulo Fróes e Alice Coutinho), que faz parte do álbum homônimo.

Sim, estamos falando de Elza Gomes da Conceição, que ficou conhecida pelo seu nome artístico Elza Soares. Nasceu em 2 de junho de 1930 no Rio de Janeiro e nos deixou em 20 de janeiro de 2022 aos 91 anos. Teve um casamento arranjado pelo pai, sofreu violência doméstica e sexual, teve seu primeiro filho muito jovem (aos 13 ou 14 anos), depois mais um filho e ambos morreram de fome, seu marido teve tuberculose, ficou viúva aos vinte e um, teve uma filha que foi sequestrada, casou-se com o Garrincha, teve um filho e se separou dezesseis anos depois. Esse filho morreu aos nove anos em um acidente de carro. Depressão. Tentativa de suicídio. Esses fatos todos são uma parte da biografia dessa mulher incrível.
Um dia ela descobriu que cantava e cantou até o fim.
Apenas 3 semanas antes de sua partida, ela postou em seu canal de Youtube a gravação da música “Meu Guri” com Agnes Nunes.

“Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando, não sei lhe explicar
Fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse que chegava lá
Olha aí!
Olha aí!
Olha aí!
Ai, o meu guri, olha aí!
Olha aí!”
(Chico Buarque)

Dos 8 filhos que teve, ela perdeu dois filhos devido à desnutrição, um por acidente e um por doença.
Ela cantava e havia um programa do Ary Barroso que estava com um prêmio acumulado. Ela tinha bocas para alimentar e foi lá buscar esse prêmio! Não havia comida, imagina se haveria roupa ou calçado bonito para se apresentar. Foi como deu para ir. Debocharam dela e o Ary perguntou:

— O que você veio fazer aqui?
— Eu vim cantar!
— Me diz uma coisa, de que planeta você veio?
— Do mesmo planeta que o seu, Seu Ary.
— E qual é o meu planeta?
— PLANETA FOME!
Quem ria, parou na hora. Ela cantou a música “Lama” e ganhou o prêmio!

“Se quiser fumar eu fumo
Se quiser beber eu bebo
Não interessa mais ninguém
Se o meu passado foi lama
Hoje quem me difama
Viveu na lama também”

Após ouvi-la, só restou para Ary Barroso dizer:
— Acaba de nascer uma estrela.

Em entrevista, muitos anos depois, ela conta essa história e reflete:
— Não sei se me considero uma estrela, não. Eu me considero, assim, um soldado raso, eu me considero um trabalhador pela música.

Contei toda essa história por dois motivos: homenagear a grande Elza Soares e tecer duas considerações:
1ª Se ela tivesse alternativa, será que ela teria ido ao programa de calouros mesmo assim?
Quando a gente tem opção (ou acha que tem) é bem fácil acreditar em qualquer coisa que nos faça desistir de tentar.
2ª Não existe ideia idiota e nem pergunta besta, mas é tão fácil ser convencido do contrário.
Às vezes, a ideia só precisa ser lapidada ou adaptada.
— E se fizéssemos Jornalismo com histórias em Quadrinhos?
— Que ideia idiota! Ter todo o trabalho de desenhar para virar banheiro de pet no dia seguinte?

Algumas ideias precisam cozinhar lentamente, em banho-maria, em vez de serem simplesmente fritadas.
Hoje existe Jornalismo em Quadrinhos e um nome forte é Joe Sacco.
A Agência Pública também trabalha com essa linha: Mulheres da Craco e Meninas em Jogo são dois exemplos do que estou dizendo.

As crianças e a fase dos porquês são a prova de que não há pergunta besta, mas a gente cresce e finge que sabe das coisas por vergonha de perguntar.

“Por que os ossos doem
Enquanto a gente dorme?
Por que os dentes caem?
Por onde os filhos saem?”
Oito anos (Dunga / Paula Toller)

Músicas
Mulher do Fim do Mundo: https://youtu.be/6SWIwW9mg8s
Meu Guri: https://youtu.be/8PS1X4OZZyM
Elza Soares, de que planeta você veio: https://youtu.be/9NVo62or4oc
Oito Anos: https://youtu.be/45u5NmUDxgI

Jornalismo em quadrinhos
Mulheres da Craco: https://apublica.org/hq/2020/10/hq-mulheres-da-craco/
Meninas em Jogo: https://apublica.org/hq/2014/05/hq-meninas-em-jogo/

Olhe para os lados

Textos de sexta: 2/52

“A má notícia é que um cometa gigante está em rota de colisão com a Terra. A notícia pior ainda é que ninguém se importa”. Essa é a sinopse do filme “Não olhe para cima”, lançado em 2021, dirigido por Adam McKay e disponível na Netflix.
A obra fala de um cometa como metáfora para o aquecimento global.
O meu título faz alusão ao do filme porque muitas vezes não olhamos para o lado. O mundo é do tamanho do nosso círculo de convívio e nossa atenção está apontada como uma bússola virada para o umbigo.
Hoje, estava eu contemplando planilhas de Excel cheias de fórmulas e automatizações e pensando “como é lindo um serviço feito automaticamente”. Se pudéssemos automatizar tudo o que é necessário, teríamos tempo para tudo que é realmente importante.
Nisso, lembrei que estava em tempo de tomar a minha vacina da Covid-19, mais precisamente a dose de reforço. Larguei as planilhas por um pouco mais de uma hora e fui até o posto de saúde. Chegando lá, deparei-me com uma fila de tamanho razoável, desci a rampa na esperança de que o meu lugar fosse lá e que estivesse mais tranquilo. Vejo duas “placas”, que na verdade eram folhas de sulfite coladas numa porta. A primeira dizia: “VACINA COVID 19
SUBIDA DA RAMPA” e na segunda constava “Vacinação para COVID-19 Informe-se aqui!!!”.
Segui as orientações na ordem em que foram apresentadas. Indignada pela contradição, subi a rampa e perguntei para um funcionário que me disse para descer. Segui a segunda orientação da placa e me informei lá embaixo e era lá mesmo. Eu não perdi muito tempo e havia apenas 12 pessoas na minha frente (sim, eu contei) mas eu não conseguia parar de pensar nas pessoas que são surdas ou mudas ou com mobilidade reduzida por qualquer motivo.
A teoria que eu criei e que provavelmente condiz com a realidade é que a primeira placa era antiga e não foi removida pela necessidade de mudar constantemente o local de vacinação em questão e a segunda era a atual.
Não era uma comunicação visual fixa como vemos, por exemplo, em terminais de ônibus ou estações de metrô ou trem, era algo bastante improvisado, mas escancarava a falta de consideração por esses grupos que eu mencionei anteriormente.
Aliás, temos esse defeito; muito justificado pela falta de tempo, pela necessidade de trabalhar muito, pelas horas gastas no transporte; que é o de simplesmente não dar importância para aquilo que não nos afeta diretamente ou para o que achamos que não nos afeta.
Isso explica o desinteresse por política, ainda que nos afete diretamente pelo preço do feijão, do combustível ou pela falta de abastecimento dos postos de saúde e por aí vai.
Claro que eu me incluo. Não estou aqui para tirar o de ninguém da reta, nem o meu. Nunca tinha ouvido falar sobre doação de medula óssea até que o filho do amigo do meu pai começou uma campanha no Facebook. Fui ler sobre, fui me inscrever e desde então isso fica na minha cabeça: Não podemos nos importar só quando nos aproximamos do assunto. É um erro grave e quando temos acesso à internet, a gravidade se amplifica.
É preciso ter contato com coisas para além da nossa bolha, seja por que tivemos o privilégio de conhecer realidades diferentes das nossas ou seja por que resolvemos ler livros, artigos, notícias; assistir filmes, documentários, séries, vídeos no YouTube ou até mesmo no TikTok; ouvir rádio, podcasts, entrevistas… Os meios são muitos; o tempo é finito e os assuntos que desconhecemos são infinitos: autismo, homossexualidade, racismo, transgeneridade, identidade não binária, adoção, hanseníase, esquizofrenia, luta de classes…
Assim que abrimos o livro/diário “uma pergunta por dia”, a primeira frase que aparece (pelo menos nessa minha edição) é “Dizem que o tempo muda as coisas, mas é você quem tem que mudá-las” Andy Warhol

Epitalâmio do monge maluco e da palhaça sonolenta e de todos os outros casais contraditórios ou não.

Texto de sexta: 1/52

Epitalâmio é um hino matrimonial de caráter religioso para pedir graças aos noivos.
Nos dias de hoje, de relacionamentos relâmpagos, este é meu apelo para todos os casais.
Abra as cortinas,
o espetáculo vai começar.
Afaste os da cobiça e os da inveja.
Vai despertando a noiva, vai!
Ela demora a acordar.
Ela vem de longe.
Mas o noivo há de esperar.
Durante o dia, envie luz e lucidez.
Nas noites, afaste a solidão a dois.
Faça da vida um horizonte longo
de caminhada incessante,
mas suave.
Que o passado deixe de ser um fantasma feio de pijama.
Quando pensar nessa caminhada, árdua, que o brilho nos olhos seja infinitamente maior do que o aperto no peito… que o medo!
Que o anel, para ambos, não seja apenas mais um adorno.
Que a calma tome conta, amoleça o coração, mas nunca nunca acovarde aquilo que quando não é dito sufoca dentro da gente.
Deixe-o ler
Deixa-a dormir
Deixe-o criar
Deixa-a livre
Que os pudores não os façam mornos
Que a rotina não os façam acomodados.
E antes de dormir, todas as noites, pense: vale a pena!
Mostre o seu melhor lado para que o outro se apaixone todos os dias
E o pior lado, para que o outro saiba onde está pisando.
Reinvente-se…
Amem.
Amém!

Ps.: Casamento de Francisca e Emílio 💕

Ilustração: Paulo Franco